Costa da Caparica:Entre Instante, e Instante!Entre Instant, et Instant!

Publié le par Rosario Duarte da Costa

 

 

 

Costa da Caparica

Auteur: Angela Caldeira"olhares.com

 

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Entre Instante, e Instante!

Entre Instant, et Instant!

 

Il y a l’histoire et, il y a des histoires. Puis, il y a le temps d’une

petite histoire !

 

Como o tempo passa depressa!

Era isto que ela me dizia...desatando logo os laços do tempo. Como

se tivésse receio de que eu não gostásse da conversa!

Sim, disse eu, o tempo está e, já outro tempo o cobre. Talvez para

não deixar impressões digitais dele. Eu tenho pensado nisso à vezes.

Porque “digo” agora e, logo depois, terei que dizer “eu disse”!

O presente torna-se logo passado. Isso mesmo!

 

Ela colocou o olhar tão alto como o céu, ficando silenciosa e estática,

eu esperando talvez que ela despontásse uma nova conversa. Foi

assim que os instantes passáram, como se não lhes importásse a

nossa presença neles!

Ouvimos um disco de Satie em silêncio, fechando os olhos de tempos

a tempos, entreabrindo-os depois, até voltar a vontade de

reconversar...

 

De repente ela voltou a cara olhando-me minuciosamente e pergun-

tou-me: será que se pode ter vontade em voltar para trás?!

- Reflectindo, respondi-lhe: evidentemente. Isso acontece-me por

vezes!

- Olha retorquiu. Estava aqui a pensar na Costa da Caparica.

Quando era jovem, quando o tempo estava propício aos passeios,

quando me chegava  a vontade de arranhar o mar, pegava num

chapéu e num livro e, lá ía eu levantar as areias, afundando os pés

na praia ali, da Costa da Caparica!

- Sim?! –disse eu...

- É verdade. Sempre gostei de divagar nos areais, de conversar com

as águas gritando no seu movimento. Depois, colocando o olhar no horizonte, perguntava-lhe o que é que havia por detrás dele. Às

vezes, estendia-me na areia cerrando os olhos, e sonhava com o

mundo que era grande e que eu  ainda não conhecia.

Outras vezes, ía comer ao restaurante rente à praia, só para ver o

mar...

 

- Que idade tinhas perguntei-lhe?!

- Ora bem, a partir dos quinze ou dezasseis anos aventurava-me só,

para  qualquer lado desde que os meus pais soubéssem onde eu ía!

Mais tarde sempre gostei de almoçar nas tascas como a “Porta Larga”

que já nem deve existir. Havia uma outra tasquinha pequenina onde

eu ía comer lambujinhas e cadelinhas! Eram boas podes crer!

Nessa altura, acompanhava sempre as refeições primeiramente com

um Martiny, depois um vinho verde (depende se comia carne ou peixe)

e, finalmente, acabando com um “Maria Brizard”, este último quase

sempre certo! Nunca bebi demais mas, gostava de tomar o “elisir” para me reforçar, durante as minhas refeições. Portanto, deixei de apreciar o “vinho”, há muito tempo, acabando por me satisfazer dum pequeno apiritivo de tempo a outro!

 

- Segundo me parece conheces bem a Costa da Caparica, não?!

-  Nem imaginas. Naquele tempo, o meu pai tinha muitos amigos. Um

deles era  o chefe dos correios ali. O meu pai sabia que ele era da PIDE mas, fazia como

não o soubésse, para evitar problemas. Quando eu lá ía comprar sêlos,

ele vinha logo com bisbulheteirices e eu, “sabichona das dúzias”, fazia como se eu não compreendêsse o que ele queria saber. Isto é, tornava-me ingénua!

Evidentemente conhecia naquele tempo a costa do início ao fim,

calcorreando as ruas sem qualquer problema, ía até aonde havia o

pinhal discutindo com portugueses e estrangeirada. Era assim que eu tomava a temperatura do que se passava no estrangeiro...

 

- Perguntei-lhe então: E tu, nunca tivés-te problemas com a Pide?!

- Sim e não. Porque conseguia saber por alguns o que procuravam os

PIDES e, assim, mudava os livros e a papelada de casa com rapidez e eficiência!

Mas um dia, justamente o PIDE que era director dos correios, apareceu em  minha casa querendo ver todos os meus livros. O meu pai que já estava ao corrente disse-me: Filha, mostra os livros todos da tua

biblioteca a este senhor.

O que eu fiz logo, com muita educaçãozinha. Os livros estavam todos forrados de papel vermelho aveludado. O PIDE perguntou logo: e

porque é que os livros são todos forrados assim?!

- Respondi-lhe que eu gostava muito das Bibliotecas antigas com belos livros de coiro vermelho e letras douradas e que, não tendo meios para

ter uma bibliotecaassim tive que os cobrir de veludo.

Tive logo a impressão de que o homem não tinha acreditado em mim, porque este voltou-se para meu pai dizendo: Não sei porquê mas, tenho

a impressão de que a tua filha me mente!

- E, mentia!

Por isso, eu gostava de o visitar nos correios da Costa da Caparica, apercebendo--me através do seu comportamento e atitudes, um pouco

do que ele não dizia!

 

- E, o que é que havia mais ali, perguntei!

- O Parque de Campismo já bem conhecido naquele tempo, o pinheiral

na mata, as praias largas e extensas...Porém, o mais interessante era à volta, onde se podia passear e descobrir dezenas de coisas!

Fora isso, apareceram depois as “Boîtes”, onde eu ía por vezes a uma delas, quando começei a interessar-me como adolescente!

 

- Como é que tu nunca mais voltás-te?

Olha, é esse mesmo o meu problema. Como eu o disse já várias vezes,

vejo sempre melhor ao longe do que de perto ( sentido normal e figurativo!).

Hoje, acabo por me dizer que o “mau tempo”, não era mau em todos os aspectos. Se retirar o Salazar e os seus escravos “PIDES” apercercebo

-me que a vida era mais respeituosa do que hoje. As jovens não se

faziam violar tanto como hoje, as criançinhas estavam ainda quase

isentas dos pedófilos...

A televisão e a rádio, ainda não estavam tão descalabradas como hoje! Porque todos se  acomodam do sexo, das históriazitas importadas que

vão ocupar toda a gentinha impedindo assim que esta possa evoluír realmente no mundo! Por exemplo, durante anos “Dallas” e “ O Fogo

do Amor” invadiram os terrenos televisivos europeus. Daí para cá, sucederam-lhe muitas outras séries, algumas pouco nocivas, outras dramáticas! A Televisão e o cinema transmitiram certamente involuntàriamente a arte de matar aos jovens...os meios de conhecerem toda a manha para prejudicarem os outros! (Isto dito, não nego que também ofereceram muita coisa positiva!).

Hoje, nos nossos países é o tempo do materialismo extrêmo, do poder exarcerbado, a época do “parecer” e, não a do “ser”. Isso, é para mim muito grave.

E, para acabar, vejo-me mal entrar num País –isto é no meu- e, ouvir a empregada do restaurante ou do cabeleireiro perguntar-me: a senhora é emigrante?!-A isto, teria que responder: não minha senhora, eu sou portuguesa genuína!

 

Rosario Duarte da Costa

Copyright

12/11/2010

 

 

Arriba fóssil da Costa da Caparica

Auteur: Pedro Vivente Pereira"olhares.com"

Publié dans Comptines! Lendas

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